De forma encerrarmos a primeira leitura para o desafio Português no Feminino 2015 decidimos dar a conhecer a autora, através das suas próprias palavras.
Poderíamos ter ido pelo caminho mais fácil recolhendo umas informações da autora através da internet, mas a entrevista permite que o leitor consiga conhecer melhor a escritora e a pessoa que está por detrás dos livros que nos dá a oportunidade de ler.
Carina Rosa
Por isso aqui ficam as nossas trocas de ideias:
1. O teu percurso literário já tem algum tempo. Partilha connosco as coisas boas e as coisas menos boas que a entrada no mundo da literatura te ofereceu.
Coisas boas: as pessoas que conheci, não apenas leitores-beta e bloguers, mas amigos com os quais me identifico e que entendem este meu mundo; o carinho dos leitores, que não se limitam a ler aquilo que escrevo, incentivando-me, ainda, a escrever mais e a nunca desistir; a aprendizagem daquilo que é a literatura e um grande crescimento em relação às técnicas de escrita criativa e de estrutura; as opiniões positivas, claro, porque me fazem feliz, e as negativas, porque me fazem crescer.
Coisas menos boas: talvez a exposição ao público. Muito do que um autor escreve mostra a sua visão pessoal das coisas. Transportamos muito para as personagens e isso coloca-nos numa situação complicada: expõe-nos a pessoas que não conhecemos e que não nos conhecem e que passam a fazê-lo. É uma grande responsabilidade escrever assim e mostrá-lo ao mundo. Depois, é preciso pensar muito bem naquilo que fazemos para não desiludir aqueles que um dia acreditaram em nós.
2. Durante o processo de escrita de um livro passas por imensas fases. O que é que é mais fácil e mais difícil durante a escrita de um livro.
Mais fácil: o romance e o dramatismo, duas áreas em que me sinto à vontade e das quais gosto imenso.
Mais difícil: o enredo e as personagens. O enredo porque não é fácil torná-lo credível e fazê-lo funcionar. As personagens porque têm de estar bem caracterizadas, sem dúvidas, sem incongruências. Penso que o mais difícil, numa obra, é mesmo o planeamento e o processo de criação do enredo e das personagens, porque é mais fácil escrever quando sabemos onde estamos e aquilo que queremos.
3. Para quem nunca leu nenhuma obra tua, quais as características que podes apontar e que o leitor vai certamente encontrar.
Muito romance, algum drama e muito, muito suspense.
4. É dentro do género contemporâneo que te sentes bem a escrever ou pensas que consegues tornar-te camaleónica ao ponto de te aventurar por um outro género?
Bem, eu já me aventurei por outro género, o policial, no qual estou a trabalhar de momento. Pessoalmente, acho que será uma mais-valia para mim enquanto escritora, porque é diferente de tudo o que tenho feito até aqui. No entanto, sim, o contemporâneo é o género em que me sinto mais à vontade. É bom, porém, sair da nossa zona de conforto e tentar outras coisas, alargar os nossos conhecimentos e capacidades. «O Escultor» está a ser um desafio e penso que quando estiver no ponto, vou respirar de alívio e ter ainda mais orgulho em mim mesma. Não são só os leitores que se fartam dos autores, quando lêem muita coisa dos mesmos e o estilo está sempre lá, começando a tornar-se maçador. Nós, autores, também nos fartamos, por vezes, daquilo que fazemos. Fugir ao contemporâneo foi uma boa decisão, embora planeie voltar, claro, à minha casa de sempre. Não é fácil ser um camaleão, mas estou a tentar sê-lo cada vez mais. Todos temos várias facetas e mais habilidades do que aquilo que pensamos.
5. “A Sombra de um passado” é o teu terceiro livro publicado. O que é que sentes com mais esta conquista?
«A Sombra de um Passado» é um livro importante, não só porque tenho um carinho muito especial por ele e o acho mesmo “fofinho”, mas também porque foi aceite por uma grande editora e isso levou-me a acreditar mais no meu trabalho. O facto de ter sido publicado por uma chancela da Porto Editora alargou-me horizontes e fez-me chegar a leitores diferentes, mesmo que tenha sido apenas em e-book. Creio que, em papel, chegaria a ainda mais. Foi sem dúvida uma conquista que me deixou muito feliz.
6. Como surgiu a ideia de escreveres “A Sombra de um passado”?
Surgiu numa noite especial de Verão, através de uma história que me foi contada. Este livro tem uma base real, com contornos fictícios que eu criei para passar a história para o papel.
7. Todas as personagens deste livro têm características que as aproximam muito da realidade. Como é que fazes para conseguir captar essa essência? Há alguma personagem pela qual tenhas um carinho especial?
Bem, eu tento colocar-me na pele das personagens, pensar naquilo que fariam em determinada situação. Rio e sofro com elas, daí, talvez, parecerem tão reais. Na verdade, eu acho que elas o parecem porque eu as vejo assim. Para mim, existem para lá do papel e poderiam ser qualquer de nós. Aliás, se o leitor não sentir o mesmo, não consegue entrar na história. Neste livro, confesso que a minha personagem favorita é o Hugo. A força desta história vem dele, ainda que seja o vilão. É ele que faz girar tudo à sua volta. Eu adoro vilões. Têm uma força que por vezes não encontramos em outras personagens. No caso do Hugo, o meu carinho por ele é ainda maior, porque há uma reviravolta na sua personalidade e ele acaba por mostrar vulnerabilidades que nos levam a perdoá-lo um bocadinho.
8. Houve alguma passagem que achaste que era melhor não colocar por medo de chocares o leitor?
Não. Não penso nisso quando estou a escrever, nem nas cenas de agressão, nem nas de sexo. Se me pedissem para as citar em público, provavelmente não o faria, mas um livro é mais do que essas passagens fortes, é composto por tudo o resto e elas são necessárias.
9. São vários os locais do Algarve e do Porto que referes ao longo do livro. São locais que te são queridos por estarem associados a boas memórias ou foram escolhidos de forma aleatória?
Sim, sem dúvida que me são queridos. O Algarve porque é a região onde vivo, o Porto porque é a cidade onde a minha mãe nasceu e onde a minha família viveu durante muitos anos. Ainda tenho lá família.
10. O que podemos esperar nos próximos tempos em termos literários?
Estou a trabalhar muito para poder mostrar aos leitores o meu primeiro romance policial, «O Escultor». No entanto, só irá para a rua quando eu achar que está no ponto. Ainda precisa de muito trabalho e não há pressas. O momento certo chegará.
11. Pensando no teu futuro enquanto escritora, quais são os teus maiores sonhos?
Os de qualquer autor que expõe o seu trabalho, acho. Primeiro: ser lida, ser muito lida, porque uma obra pode ser boa, mas se não for conhecida, ninguém saberá da sua existência. Segundo: que os leitores continuem a gostar daquilo que lhes dou, porque a leitura é um mundo de sonhos e o meu maior desejo é fazer sonhar quem está do outro lado e passar bons momentos dentro de uma história. Penso que estes meus sonhos se reflectem nos meus leitores, mas para os conseguir, precisava de uma maior projecção no meu trabalho. Gostava muito de conseguir publicar o meu próximo livro em papel, não porque não seja lida em e-book, mas porque ainda sou da geração do papel e gosto de ver os meus livros na estante e poder folheá-los de vez em quando. Gosto de saber que existem como algo palpável e que posso oferecê-los às pessoas especiais. Penso que este seria o meu maior sonho neste universo.
Obrigada Carina pelas tuas palavras e pela tua disponibilidade.
Foi um gosto e cá estamos para ler as tuas palavras, por isso só queremos que continues a dar azo à tua devoção à escrita.