Opinião Livro

A Filha do Capitão, José Rodrigues dos Santos


Título Original: A Filha do Capitão
Autor: José Rodrigues dos Santos
Editora: Gradiva
Páginas: 636
Ano Publicação: 2004

Sinopse

A Filha do Capitão é a história de uma grande paixão em tempo de guerra. Quem sabe se a vida do capitão Afonso Brandão teria sido totalmente diferente se, naquela noite fria e húmida de 1917, não se tivesse apaixonado por uma bela francesa de olhos verdes e palavras meigas. O oficial do exército português estava nas trincheiras da Flandres, em plena carnificina da I Guerra Mundial, quando viu o seu amor testado pela mais dura das provas. Em segredo, o Alto Comando alemão preparava um ataque decisivo, uma ofensiva tão devastadora que lhe permitiria vencer a guerra num só golpe, e tencionava quebrar a linha de defesa dos aliados num pequeno sector do vale do Lys. O sítio onde estavam os portugueses. Tendo como pano de fundo o cenário trágico da participação de Portugal na Grande Guerra, A Filha do Capitão traz-nos a comovente história de uma paixão impossível e, num ritmo vivo e empolgante, assinala o regresso do grande romance às letras portuguesas. O Capitão Afonso Brandão mudou a sua vida quase sem o saber, numa fria noite de boleto, ao prender o olhar numa bela francesa de olhos verdes e voz de mel. O oficial comandava uma companhia da Brigada do Minho e estava havia apenas dois meses nas trincheiras da Flandres quando, durante o período de descanso, decidiu ir pernoitar a um castelo perto de Armentières. Conheceu aí uma deslumbrante baronesa e entre eles nasceu uma atracção irresistível. Mas o seu amor iria enfrentar um duro teste. O Alto Comando alemão, reunido em segredo em Mons, decidiu que chegara a hora de lançar a grande ofensiva para derrotar os aliados e ganhar a guerra, e escolheu o vale do Lys como palco do ataque final. À sua espera, ignorando o terrível cataclismo prestes a desabar sobre si, estava o Corpo Expedicionário Português. Decorrendo durante a odisseia trágica da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, A Filha do Capitão conta-nos a inesquecível aventura de um punhado de soldados nas trincheiras da Flandres e traz-nos uma paixão impossível entre um oficial português e uma bonita francesa. Mais do que uma simples história de amor, esta é uma comovente narrativa sobre a amizade, mas também sobre a vida e sobre a morte, sobre Deus e a condição humana, a arte e a ciência, o acaso e o destino.

Decidi ler este livro depois de mostrar o meu interesse à Silvana do Por detrás das palavras e assim nasceu a nossa vontade de fazer uma leitura conjunta, de onde nasceram os nossos retalhos.



Este livro foi a minha estreia com José Rodrigues dos Santos. E para quem nunca leu nada do autor, fiquei bastante entusiasmada e cativou-me imenso toda a dimensão histórica que ele se empenhou em descrever na perfeição. Não sei se é uma característica do autor, mas se o for, é uma mais-valia.

Dividido em 3 partes, a primeira começa por descrever o crescimento das personagens principais: Afonso e Agnès. O segundo denominado por Flandres, abarca todo o tempo de guerra, especificamente a entrada de Portugal na 1º Guerra Mundial. Enquanto a 3º parte, Tempestade, é descrito o fim da guerra e as suas consequências. As duas últimas partes são verdadeiros relatos e homenagens aos nossos homens que combateram numa guerra para que pouco ou nada estavam preparados. Contudo conta sempre com pano de fundo a paixão e o amor que surge em tempos conturbados. 


Afonso Brandão nasce em Rio Maior, filho mais novo de uma família numerosa e pobre, desde cedo é educado para trabalhar. Quando começa a ganhar uns trocos, a dona da loja, resolve mantê-lo longe da sua filha com o objectivo de não existirem gravidezes e casamentos precoces, nem vir a ter um genro que não tem onde cair morto. Por isso, primeiro é necessário instrui-lo e nada melhor que ir para um seminário. Mas quando as coisas por lá não correm tão bem quanto o suposto, o melhor é mandá-lo para o exército. E é assim que de um momento para o outro se torna capitão. Vai comandar as tropas portuguesas em Flandres e é aí conhece o amor da sua vida.

Agnès Chevallier tem um crescimento normal e bom com os seus irmãos e pais. Bastante apaparicada pelo pai, cedo começa a ter um interesse em vinhos, mas a sua verdadeira paixão é ajudar os outros e a medicina. É quando entra na universidade que se apaixona pelo 1º marido Serge, só que também é a guerra que lho tira. Numa altura desesperante e desamparada, surge Charles, um velho conhecido da família, que lhe dá a mão, acabando por se unir a ele. Depois de não ter terminado o curso, de pouco ter vivido com Serge, não ver a família há tanto tempo, e Charles ser mais um pai que marido, Afonso entra na sua vida como um raio de sol.


Ambos têm personalidades muito fortes, desde pequenos que mostram que estão insatisfeitos com certas questões e querem saber até à exaustão todas as explicações, seja sobre a religião, a guerra ou a psicanálise. Afonso e Agnès mostram que são recatados, inteligentes, calmos, mas Agnès quando chega ao início da fase adulta a parte da moderação e ponderação deixa de existir e vemos uma personagem muito impulsiva. Aliás, esta personagem foi a única que tanto se notava uma evolução no seu crescimento como uma regressão. Enquanto o Afonso sempre se manteve no mesmo registro mesmo em alturas que era necessário mais pulso e rigidez.

Não só fala dos surgimentos dos clubes portugueses, como o Benfica e o Sporting, como a morte do rei Carlos I, a implantação da Republica, os novos ideais políticos, como ainda o grande foco da história, é a 1º Guerra Mundial. A vida nas trincheiras da Brigada do Alto Minho, onde personagens secundárias como Matias, Baltazar e Vicente, conseguiram encher páginas com humor num cenário tudo menos humorístico. A dura realidade de soldados que em nada estavam preparados para aquela guerra, tanto que, eram gozados e apontados pelo cansaço, por serem os menos higiénicos, pelos trapos que usavam, e pela facilidade de lutar contra eles. 
Também é feito o paralelismo entre a vida portuguesa e francesa através dos  nossos protagonistas, nos inícios do séc. XX. Portugal estava completamente atrasado no tempo, existindo apenas um vislumbre de pequenas mudanças na capital. Enquanto que a família Chevallier pôde proporcionar aos filhos a ida para a universidade, em Portugal era considerado um feito quem o pudesse fazer.

Uma narrativa perfeita que consegue buscar momentos históricos e reais e interliga-los com o nascer de uma história de amor. Bebendo ainda inspiração na ruralidade, na religião, nos modos e aparências das várias personagens de diferentes países que vão aparecendo, na conduta dos capitães e os seus subalternos. 
Não é difícil deixarmo-nos invadir pelos sentimentos das personagens, conseguimos percebê-los e sentir empatia tal é a maneira cativante com que o autor escreve. Rico em descrições que trouxeram a lume a dura realidade da guerra e do que esta pode juntar, mas que igualmente pode separar para sempre.

Citações:

"Viver é sofrer. E o que é mais curioso é que, apesar de ser um constante sofrimento, nós agarramo-nos à vida com todas as nossas forças, como se fosse o maior tesouro, a coisa mais preciosa. Mas a vida está sempre in articulo mortis. Ela foge-nos, escapa-nos como água entre os dedos, morremos em cada respiração, a cada palavra, a cada olhar, momento a momento encurta-se a distância que nos separa do nosso fim, nascemos e já estamos condenados à morte. A vida é breve, não passa de um instante fugaz de um brilho efémero nas trevas da eternidade”  

"Depressa caía em si e percebia que o guião já estava escrito, não era possível mudar o passado, o que fora feito ficara feito, aquela era uma estrada já percorrida e sem retorno, uma ópera triste que já fora cantada."

"Sabe, meu capitão, descobri que o mais duro não é fazer a guerra," murmurou o antigo cabo. "O mais difícil é sobreviver a ela, é viver com ela depois de ter vivido nela."

Classificação: 5 de 5*
 







2 comentários:

  1. Quero muito muito ler este livro! Definitivamente!
    Beijinhos! ^^

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    Respostas
    1. Muito bom e apesar de ser grande vale bem a pena o tempo que se passa a lê-lo.
      Acho que é um bom livro para ti :)

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