Orgulho e Preconceito, Jane Austen
Título Original: Pride and Prejudice
Autor: Jane Austen
Editora: Europa-América
Género: Clássico
Páginas: 283
Ano Publicação PT: 2010
Sinopse
Orgulho e Preconceito é, sem dúvida, uma das obras em que melhor se pode descobrir a personalidade literária de Jane Austen. Com o fino poder de observação que lhe era peculiar, a autora dá-nos um retrato impressionante do que era o mundo da pequena burguesia inglesa do seu tempo: um mundo dominado pela mesquinhez do interesse, pelo orgulho e preconceitos de classe. Esses orgulhos e preconceitos que, no romance, acabam por ceder o passo a outras razões com bem mais fundas raízes no coração humano.
O meu livro data 2011 como o ano em que o adquiri, mas entre voltas e baldrocas,
só surgiu a oportunidade de ler este grande clássico da literatura este ano,
mais precisamente agora em Setembro. Depois de me juntar à Silvana do Por detrás das palavras nas aventuras de leituras conjuntas, surgiu a ideia de
lermos este.
Eu bem queria ter gostado mais, esperava mesmo muito mais,
ao ponto de achar que o livro fosse melhor que as duas adaptações
cinematográficas, a de 1940 e a de 2005. Não digo que seja melhor pois já as vi
em 2011 e a minha memória não é das melhores, mas esta obra é boa mas está
muito sobrevalorizada.
Sei bem que a essência de Jane Austen é alongar-se em descrições
da podridão da sociedade daquele tempo, os estereótipos e o papel das mulheres, as reacções da igreja, a hierarquia social, e a falta de proactividade tanto para pessoas da dita classe social alta como a dificuldade das diferentes classes se entenderem. E entre a irónia, a única personagem que consegui
simpatizar e ter compaixão foi com Mr. Darcy. E aqui não falo por conter algum
tipo de paixão platónica por ele, mas simplesmente por ser a personagem mais apontada
e mais mal compreendida, quando nem existe verdadeiramente um bom motivo para
isso.
Elizabeth Bennet é a perfeita heroína de Austen, a segunda de
cinco filhas de uma família da classe média, aquela que tenta através da sua visão apelar ao leitor os
problemas da sociedade no século XIX. Se tenta mostrar um espírito mais moderno
para a época, em que não tinha qualquer problema em dizer o que lhe ia na alma,
e mostrar que as mulheres não têm de ser todas recatadas, peca no sentido de
ser demasiado crítica. Basicamente, para mim, o título aplica-se única e
exclusivamente a Lizzy.
Ela é a personagem mais preconceituosa e que mais juízo de
valor faz em quase todo o tempo de antena que tem. Se começa pela amiga
Charlotte em relação ao casamento com Mr. Collins, com o Mr. Darcy, nem sequer
lhe dá margem de manobra de ele ser boa pessoa. Bastou um comentário para criar
uma série de mal entendidos e pressuposições em relação à sua pessoa. E quem
mais o atacou foi a pessoa que mais se deixa iludir pelas primeiras impressões.
E em relação ao orgulho, quando se apercebe que o seu coração pendia para Mr.
Darcy, quis que fosse o pobre homem que, mesmo rejeitado e enxovalhado por si, teria
de lhe declarar renovado interesse. Oh mulher, haja santa paciência...
E aqui tenho de comparar Mr. Darcy a Mr. Bingley. Se o primeiro foi o mais atacado com comentários negativos, como é que é possível, o Mr. Bingley ter passado entre os pingos da chuva, no meio de uma história em que ele é o protagonista? Darcy como amigo deu a sua opinião, mas o outro é que se deixou influenciar, ele é que é o agente activo na mudança de rumo na sua história de amor. E nem por um único momento, houve uma alminha que o condenasse.
Já em relação à maneira como a autora pintou Mr. Darcy, acho que ela fez um brilharete. Pois ao servir-se em primeira linha dos ataques pessoais de Elizabeth, camuflou a verdadeira personalidade do homem. Se há coisa que ele pode ser acusado é de ser bastante reservado, tímido e retraído, logo dá-lhe uma aparência de arrogante e superior, quando no fundo não é nada assim. Sim julgou, mas quem não julga primeiro o livro pela capa?!
Sobre as restantes personagens, detestei Mr. Collins que,
para uma pessoa da igreja, fazia um uso muito hábil da palavra para atacar
muito sorrateiramente os outros. Mesquinhez e manhoso são as características
apontadas. Depois sobre a família Bennet, se inicialmente achei Jane bondosa
acho que a autora quis mostrar a ingenuidade mais como aspecto presente, pois
ela tinha uma grande dificuldade em duvidar dos outros, o que a prejudicou. Sobre
Lydia, é a fotocópia da mãe, ambas frívolas, cabeças no ar e fúteis, e por
isso, não me surpreendeu nada o seu comportamento, que não é mais do que querer
chamar a atenção com as suas excentricidades. Do Mr. Bennet esperava mais,
talvez mais pulso, acção e prudência, o que não se verificou no assunto
Wickham. Já sobre esta personagem, se logo percebemos o seu carácter também foi
única que me deixou na dúvida sobre qual seria a sua verdadeira ambição ao ter
fugido com Lydia, pois ela não tinha posses e ainda não existia uma intervenção
do Mr. Darcy. E por último, Lady Catherine também merece destaque por ser a Cruella de Vil daquele tempo,
ao achar-se em posição superior crítica tudo e todos, e apenas o seu modo de
ver é que é o mais correcto e possuidor do dom da razão. Claramente uma sátira às
pessoas da aristocracia.
Posto isto, o bom na escrita de Jane Austen é a facilidade de conseguir
com que os momentos fluam e de não sentimos o peso das páginas. Cada
acontecimento por mais absurdo, aborrecido ou irritante, é capaz de puxar por
extremos emocionais. Por momentos tinha vontade de entrar no livro e dar umas
chapadas ou ao Mr. Collins ou à Elizabeth, ou então chamar à razão o Mr.
Bingley. Acho mesmo que a obra está construída de modo a ser muito reactiva.
Apesar de não me ter arrebatado nem o colocar na minha lista
como um dos meus livros preferidos, não posso deixar de dar o mérito a uma
senhora que, tal como Eça de Queirós, passados 100/200 anos da publicação das suas obras, parecem escrever sobre a nossa actualidade.
Dizem que a série da BBC de 1995 é mais fiel ao livro, e como tal, quero
dar uma olhadela, pois nunca é demais ver o Colin Firth.
Citações: Usadas nos desafios da leitura conjunta
Classificação: 4 de 5*
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