1984, George Orwell
Título Original: Nighteen Eighty-Four
Autor: George Orwell
Editora: Antígona
Género: Distopia
Páginas: 314
Ano Publicação PT: 2007
ISBN: 9726081890
Sinopse
Segundo Orwell, «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro» é uma sátira, onde aliás se detecta inspiração swifteana. De aparência naturalista, trata das realidades e do terror do poder político, não apenas num determinado país, mas no mundo — num mundo uniformizado. Foi escrito como um ataque a todos os factores que na sociedade moderna podem conduzir a uma vida de privação e embrutecimento, não pretendendo ser a «profecia» de coisa nenhuma.
George Orwell marcou o século XX quando publicou o seu
último romance em 1949, um livro de ficção que se enquadra dentro de uma
distopia. Seguramente muitos livros e filmes basearam-se nele para visualizar o
que cada um projectava de futuro próximo ou longínquo. Conseguiu surpreender-me,
mas achei que a leitura é algo morosa até mais de metade do livro contudo o que o fez
resultar tão bem foi a reviravolta, já a leitura ganhou outro impulso e mais
dinamismo.
Winston Smith é o narrador ou o ser pensante que vive na
Ocêania, um dos três Estados vigentes do mundo, que abarca o que apelidamos de
Inglaterra mas que aqui é apelidado por Pista Um. Neste Estado existe a Novilíngua, a língua criada pelo
Partido, e este é um regime totalitário. Portanto, Orwell baseou-se nos regimes
vigentes dos Anos 20/30 para compor a sociedade utópica de 1984. Um regime que
consegue controlar o povo de todas as maneiras e feitios sendo a figura do
Grande Irmão, o grande representante deste poderio. Big Brother is watching you é o lema pois devido aos telecrã, à
polícia do partido, às denúncias que qualquer pessoa fazia para livrar a sua
pele, assim se vivia nesta sociedade controlada. Fossem os pensamentos, a falta
de entusiasmo na Hora do Ódio, ou uma qualquer expressão de extrema felicidade
ou de apatia poderiam significar problemas.Faz-nos lembrar, por exemplo, no Salazarismo.
Ele significa aquela pessoa que questiona os porquês do
Partido. Sabe que o povo está a ser manipulado, enganado e aldrabado todos os
dias. O controlo que é feito através da criação da novilíngua de limitar as palavras, portanto, limitar o pensamento.
Quanto mais limitado for uma pessoa mais fácil será manobrar e não existirá crimepensar contra o Partido. Assim o duplopensar tem a função de limitar a
individualidade de cada ser e transformá-los em marionetas da propaganda do
Partido, pois quanto mais ignorante melhor. Abraça-se uma nova realidade e
esquece-se definitivamente que existiu uma antiga. Winston sabe isso
perfeitamente pois pertence ao Ministério da Verdade que tem a função de
reescrever o passado e elaborar uma nova verdade, ou seja, em qualquer caso o
Partido terá que ficar sempre bem visto. "O passado não só se modificava, como se modificava continuamente."
Adorei o facto de não saber o que pensar de O’Brien, será
que ele seria realmente uma fantochada só para enganar o Partido ou ele enganou
bem Winston e pertencia desde sempre ao Partido? E se enganou e bem Winston,
também me enganou a mim. Por momentos não consegui acreditar que o homem fazia
mesmo parte do Partido. E foi este o brilhante trunfo de Orwell, conseguir
enganar o leitor com aquela ânsia que este será um daqueles livros com boas
reviravoltas finais. Mas a surpresa é que este livro celebra a supremacia dos regimes
autoritários e a lavagem cerebral que conseguem fazer mesmo à pessoa mais
consciente do mal que provocam nos humanos. Não digo celebrar como quem
concorda mas de quem os consegue analisar de dentro para fora, de quem os
consegue desconstruir para obter a base principal destes regimes: o poder.
Nada mais do que poder, e com a novilíngua, basicamente junta dois conceitos num só, pretende que
as palavras a pouco e pouco sejam abolidas. Assim como, o pensamento que ao
apagar todos os registos do que foi e reescrever o constantemente o passado consoante
as exigências do presente. Assim aquilo que existiu nunca haverá certeza
absoluta que aconteceu mesmo, porque de um momento para o outro pode ser
apagado e o poder do Partido é de tal forma convincente que 2+2 são mesmo 5.
Mesmo sendo ficcional e passados tantos anos depois da sua
publicação não podemos deixar de olhar para trás e também para o futuro e ver verdades
escarrapachadas em 1984. Mostra-nos
que o poder que os regimes totalitários exercem não pode nunca vingar enquanto
a liberdade de expressão, de pensamento, a individualidade, tiverem sempre voz
activa. Pois saberemos sempre qual foi o nosso passado para construirmos o
futuro enquanto vivemos o presente consoante a nossa própria vontade. Um livro
reflectivo para quem se interessa por temas reais mas numa realidade
fantasiosa.
Citações:
“Enquanto não tomarem consciência não se revoltarão, e
enquanto não se revoltarem não poderão tomar consciência.”
“Mas eu digo-te, Winston, a realidade não é exterior. A realidade
existe no espírito humano, e em mais parte nenhuma. Não no espírito individual,
que pode cometer erros, e que para todos os efeitos é perecível: só existe no espírito do Partido, colectivo e imortal. O que o Partido consagrar como
verdade, é verdade. Impossível ver a
realidade excepto através dos olhos do Partido."
Classificação: 4 de 5*
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