Opinião Livro

A Casa dos Espíritos, Isabel Allende



Título Original: La Casa de Los Espíritus
Autor: Isabel Allende
Editora: Difel
Género: Romance
Páginas: 357

Ano Publicação PT: 1987
ISBN: 9789722909433


Sinopse

O relato da vida de Esteban Trueba, da mulher, dos filhos legítimos e naturais, e dos netos vai levar-nos do começo do século até à actualidade; é toda uma dinastia de personagens à volta das quais a narrativa vai gravitando sem perder de vista os outros - mesmo depois de mortos. O temperamento colérico do fundador, a hipersensibilidade fantasista da sua mulher e a evolução social do país - que reflecte e pode muito bem simbolizar qualquer país latino-americano - tornam difíceis as relações familiares, marcadas pelo drama e a extravagância e conduzem a uni final surpreendente e cruel, que deixa no entanto aberto o caminho de uma trabalhosa reconciliação.

No panorama da actual literatura hispano-americana, nenhum nome de mulher tinha conseguido até agora ocupar um lugar cimeiro. Faltava pois uma romancista. A impecável desenvoltura estilística, a lucidez histórica e social e a coerência estética, patentes em A Casa dos Espíritos fazem do primeiro romance de Isabel, um livro inesquecível.




Três gerações da família Trueba são abordadas ao longo das várias páginas deste primeiro romance de Isabel Allende de 1982. Se inicialmente conhecemos a família da futura mulher de Esteban Trueba depois deambulamos pela carismática personalidade e vida de um homem que pouco é de família e para quem o socialismo é a origem de todos os males.


Severo del Valle e Nivea são pais de Rosa e Clara, duas raparigas místicas que se uma é uma flor de estufa a outra é dotada do poder de clarividência. Esteban apaixonado por Rosa começa desde cedo a trabalhar para poder dar uma vida digna à futura mulher, mas nada faria prever que a morte fosse o entrave para a vida em comum. Se a mulher de uma beleza exacerbada e cabelos esverdeados não seria sua, a sua irmã Clara, poderia ser a sua substituta. E se nos primeiros anos a paixão levou a melhor no casamento entre Trueba e Clara, rapidamente a chama começa a arrefecer e depois do nascimento dos gémeos, Nicolau e Jaime, tudo muda. 



Em pleno Chile somos confrontados pela tirania e escravatura que muitos fazendeiros e senhorios impõem a quem tratasse ou estivesse nas suas terras. Esteban não é diferente, dono de Las Tres Marias, cedo percebe que é dali que pode retirar o sustento para a sua família e assim tornar-se um homem poderoso. Com pulso de ferro, é com dificuldade que aceita que os seus criados tenham poderes, salários, horas de trabalho. Se lhes dá comida e casa que mais podem querer?! Por isso, quando o socialismo começa a espalhar-se por todo o Chile e os trabalhadores começam a questionar os patronos, vemos que é um homem que abomina tudo o que esteja ligado a esse novo poder social e a quem com o início da revolução só tem mais a perder que a ganhar. O que não esperava era que a sua primeira filha, Blanca, se apaixonasse por um rapaz do campo pé descalço. E quis o futuro que fosse a sua única neta, Alba apesar do feitio do avô que estivesse com ele nos seus últimos momentos.


São mesmo os tempos que fazem a diferença na família Trueba, se no início da leitura havia um ambiente mais calmo no desenvolver da história caminhamos a passo largos para ambientes mais sombrios e temerosos. Contudo são intercalados com momentos de generosidade, de grandes paixões, de entreajuda, de alegrias, pelas mulheres da vida de Esteban. Tanto a mulher, a filha e a neta apresentam-se como as que trazem a mudança para a vida daquela família. Boa ou má apenas serviu para perceber que a sociedade sofre alterações e que são essas mesmas alterações que podem fragilizar uma família se ela não for coesa. E para um homem que o dinheiro se sobrepõe à família não se pode esperar um bom fim. Porém mais vale tarde que nunca pensar nos erros que se cometeu apesar da sua família se ter desmembrado e ter pago caro por esses erros.

Gostei do livro, levou-me por um mundo bem real e para as prévias consequências da ditadura do General Augusto Pinochet. Claro que depois de o ler quis saber um pouco mais sobre a raiz deste mundo, e fiquei a saber que o tio de Isabel Allende, Salvador Allende, foi um dos fundadores do Partido Socialista Chileno em 1933 e foi Presidente da Republica desde 1970 a 73, altura que Pinochet exigiu a sua renúncia. Sobre a sua morte há duas versões, a que se suicidou no Palácio antes da sua tomada ou que o assassinaram. Esta última é a versão que a escritora acredita. 

Este é já o meu segundo livro que leio da autora. Penso que este como foi o 1º livro de Allende, está demasiado carregado de descrições e por momentos parece que embrenhamos num mundo difícil de compreender e com demasiada informação a reter que me senti com vontade de ler na diagonal algumas passagens. Mas tirando isso é um livro bastante consistente e bom, e ao compará-lo com O Caderno de Maya, achei-o menos dinâmico apesar de ambos abordarem temas complicados.

Mais um que quero ver a adaptação cinematográfica, o tempo é que parece não me querer ajudar muito nesse campo, visto que há outros a merecer também o devido destaque.
 

Citações:

"Tanto como no momento de vir ao mundo, ao morrer temos medo do desconhecido. Mas o medo é algo interior que não tem nada que ver com a realidade. Morrer é como nascer: uma mudança apenas."


"Escrevo, ela escreveu, que a memória é frágil e o trânsito de uma vida é muito breve e sucede tudo tão depressa que não conseguimos ver a relação entre os acontecimentos, não podemos medir a consequência dos actos, acreditamos na ficção do tempo, no presente, no passado e no futuro, mas também pode ser que tudo aconteça simultaneamente."

Classificação: 4 de 5*

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