Opinião Livro:
Morreste-me, José Luís Peixoto
Título: Morreste-me
Autor: José Luís Peixoto
Editora: Quetzal
Páginas: 64
ISBN: 9789725648025
Sinopse
«Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora. Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português.»
Já tinha iniciado a leitura deste livro em 2010, mas resolvi
pegar-lhe outra vez. É incrível que desta vez parece que o livro possuía magia
para os meus ouvidos. O ano passado faleceu um ente muito querido por mim, e ao
reler as passagens deste brilhante pequeno livro, revi-me de muitas maneiras.
Contado na primeira pessoa o autor retratar os últimos dias
do seu pai e como a família reagiu à sua doença e à sua morte. É aqui que José
Luís Peixoto exorciza os seus demónios, os medos, as angustias, a dor. São imagens
constantes que o autor nos vai divulgando do que aconteceu antes e depois da
morte. Imagens que nos deixam com o coração destroçado. Afinal quase todos nós já
tivemos alguém muito querido que vimos partir.
Entristece o espírito porque nas palavras dele sentimos não
só a sua dor mas também a nossa. Não podia deixar de me observar nas atitudes,
aquelas que tomamos quando sabemos que o fim está perto. É pensar que é a
pessoa que sempre vimos como forte e que agora está ali tão frágil, deitada. É pensar
que a saída do hospital é recuperação, quando não o é. É pensar que as palavras
de apoio não ferem mais do que a verdade, quando é precisamente o contrário. É
pensar que o apoio dado não é nada comparado com aquele que recebemos de quem
está naquela situação. Ou é pensar que aquilo que fazemos não pode nunca acabar
com a dor e o sofrimento daquele que vive diariamente com a doença.
Gostei dos elementos que compõe a história. O relógio de
pulso, a roupa, as chaves, a casa e o quintal, a carrinha, tudo aquilo que se
deixa para trás, aquilo que pouco ou nada vai ser usado posteriormente. Mais
uma vida que termina e nada volta a ser como era.
É impossível ficar indiferente. Mesmo daqueles livros para
derramar lágrimas, não o fiz, mas fiquei bastante emocionada e com um aperto no
coração. Acho que não há maneira de não nos reflectirmos nas palavras de José
Luís Peixoto. Recomendo para quem gosta de temas pesados, como a morte.
Citações:
“E menti-te. Disse aquilo em que não acreditava. Ao olhar
amarelo, ofegante, disse que tudo serias e seríamos de novo. E menti-te. Disse vamos
voltar para casa, pai.”
“Pai que nunca te vi tão vulnerável, olhar de menino assustado
perdido a pedir ajuda.”
“Pai, fiquei no silêncio do inverno que abraçaste. Não há
primavera se não imaginar erva fresca das palavras erva fresca ditas por ti;
não haverá verão se não imaginar o sol da palavra sol dita por ti; não haverá
outono se não imaginar o fundo do esquecimento da palavra morte dita nos teus
lábios. Por isso, pai, no ar, o silêncio de ti e sofrer, no tempo que passa, no
ar, no tempo que não passa já.”
Classificação: 5 de 5*
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